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31 janeiro 2007

FILOSOFIA DO SEGREDO

O Professor Roberto Romano (Filosofia, Unicamp) postou, em 29 de janeiro passado um texto para convidar ao debate mais aprofundado sobre o tema “segredo” nas instituições governamentais, especialmente o Judiciário e o Executivo. Segundo o professor, “o escrito, embora longo, ainda é apenas um fragmento inconcluso. Ele também apresenta defeitos de todo tipo. Os leitores interessados podem corrigir os meus erros com diligência.”

Faz-se aqui a publicação de vários excertos, de tal forma (espero) a não quebrar o contexto, mas dele retirar-lhe o que nos pode servir, no momento, de motivação para questionamentos. É insubstituível, porém, a íntegra de seu conteúdo.

ROBERTO ROMANO

Notas para uma Filosofia do Segredo.



A democracia começa e termina com o segredo. [...] O segredo não pode ser atribuído apenas ao Estado e às suas instituições. [...] A sua prática passou das corporações aos setores administrativos, aperfeiçoando-se ao máximo. O segredo, enuncia Simmel, não pertence nem ao campo do ter nem ao do ser, mas ao do agir”.(1)
[...]

Seria inaceitável para um governante absolutista a soberania popular e a noção de que os dirigentes deviam prestar contas de seus atos, sem guardar segredo, à massa não qualificada. Todos os príncipes liam nos tratados políticos e na literatura grega ou romana a plena desconfiança no povo. [...] E arremata La Boétie (2): “O povo não tem meios de julgar, porque é desprovido do que fornece ou confirma um bom julgamento, as letras, os discursos e a experiência. Como não pode julgar, ele acredita em outrem. Ora, é comum que a multidão creia mais nas pessoas do que nas coisas, e que ela seja mais persuadida pela autoridade de quem fala do que pelas razões que se enuncia”.
[...]

Passada a era das revoluções, para usar o termo de Eric Hobsbawn, e depois do pesadelo trazido pelos Estados totalitários do século 20, o poder estatal apresenta agudos problemas. Na dialética contraditória ocorrida na ordem democrática anterior aos totalitarismos —os demagogos prometeram plena transparência ao povo, mas precisaram assumir o segredo estatal, foram eleitos pelo voto secreto e, nos palácios, usaram o segredo para domar as massas que os sufragaram — o pêndulo foi da convulsão social e política às tiranias como a nazista. A resposta do poder ao segredo do voto foi o recrudescimento e a manipulação inaudita do segredo de Estado.
[...]

Com a Segunda Guerra, a Guerra Fria, o Macarthismo e as formas autoritárias que visualizamos no mundo, o segredo aumentou sua abrangência. Se os países socialistas, supostamente repúblicas populares, quebraram a base da accountability e da fé pública em proveito dos governos, algo similar ocorre hoje na Europa e nos EUA. Hannah Arendt afirma que a vida totalitária deve ser entendida como reunião de “sociedades secretas estabelecidas publicamente” (3). O paradoxo é só aparente. Hitler examinou os princípios das sociedades secretas como corretos modelos para a sua própria. Ele promulgou em maio de 1939 algumas regras do seu partido: primeira regra: ninguém que não tenha necessidade de ser informado deve receber informação. Segunda : ninguém deve saber mais do que o necessário. Terceira: ninguém deve saber algo antes do necessário. (4)

Consideremos a lição de Norberto Bobbio: “O governo democrático desenvolve sua atividade em público, sob os olhos de todos. E deve desenvolver a sua própria atividade sob os olhos de todos porque todos os cidadãos devem formar uma opinião livre sobre as decisões tomadas em seu nome. De outro modo, qual a razão os levaria periodicamente à urnas e em quais bases poderiam expressar o seu voto de consentimento ou recusa? (…) o poder oculto não transforma a democracia, a perverte. Não a golpeia com maior ou menor gravidade em um de seus órgãos essenciais, mas a assassina” (5).

A democracia moderna surge com a exigência de accountability a ser cobrada dos governos. A radicalidade dos democratas ingleses rendeu frutos na Europa e na América do Norte. Os seus postulados sustentaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Woodrow Wilson, insiste no elo entre fé pública e responsabilidade, o que deve atenuar o segredo de Estado (6). [...]

O segredo é essencial para se refletir sobre a forma democrática. Governos exasperam a prática de esconder os pontos maiores das políticas no setor público. Entramos no paradoxo: o público é definido fora do público. A opacidade estatal atinge níveis inéditos. [...]

Sendo fato social, o segredo se manifesta em todos os coletivos humanos, das igrejas às seitas, dos Estados aos partidos, dos advogados aos juízes, dos quartéis às guerrilhas, das corporações aos pequenos vendedores de rua, da imprensa à formas de censura, dos laboratórios e bibliotecas universitários à fábricas, dos bancos às obras de caridade. Se descermos mais fundo, da sociologia à ordem antropológica, podemos dizer que o segredo é o lado oposto e necessário da linguagem comunicacional.[...] A prudência define a passagem de uma prática ou experiência do segredo antropológica e eticamente correta, para uma outra, em que se manifesta o poder abusivo. A balança entre abertura e segredo foi indicada por Simmel : “a intenção de esconder assume intensidade tanto maior quanto se choca com a intenção de revelar” (7). O segredo integra a vida, como uma realidade não visível. Neste sentido, [...] o segredo vive na consciência dos homens que, ao se reunirem para qualquer fim, agem tendo em vista alvos não imediatamente perceptíveis pelos demais e, sobretudo, pelos alheios ao grupo.

O pensamento liberal é oposto ao segredo, salvo em situações de guerra. O ensaio de Bentham, Of Publicity, é o mais saliente nesse aspecto. A publicidade é “a lei mais apropriada para garantir a confiança pública, sendo a causa de seu avanço constante rumo ao fim de sua instituição”. O segredo, pensa Bentham, “é instrumento de conspiração; ele não deve, portanto, ser o sistema de um governo normal”. (8) Para citar novamente Simmel : “Toda democracia considera a publicidade como uma situação intrinsecamente desejável, seguindo a premissa fundamental de que todas as pessoas deveriam conhecer os eventos e circunstâncias que lhes interessam, visto que esta é a condição sem a qual elas não podem contribuir nas decisões sobre elas mesmas” (9).
[...]

Tal forma de compreender é dogmática e dispensa todas as distinções entre a fala e os objetos. Ela é a verdade em andamento. A garrulice não dissimula, não se esconde em nenhum segredo, porque ela mesma já é dissimuladora. Quando um linguarudo fala, ele esconde sem saber ou desejar o que deveria ser dito, joga um véu de sons acima dos entes que deveriam ser pensados. Quando fala o tagarela, ele impede toda discussão posterior. “Tudo está dito”. E nada deve ser perguntado. Desaparece o segredo no mais banal, na opinião publica (10).


Notas

(1) Citado por Michel Senellart, «Simuler et dissimuler : l'art machiavélien d'être secret à la Renaissance», in: Histoire et secret à la Renaissance. Etudes sur la représentation de la vie publique, la mémoire et l'intimité dans l'Angleterre et l'Europe des XVIe et XVIIe siècles. (Paris, Ed. François Laroque, 1997), páginas 99-106.

(2) Cf.La Boétie, Etienne: Mémoires de nos troubles sur l´Édit de janvier 1562, p. 12.
(3) Hannah Arendt. “Il potere in maschera.” In L´Utopia capovolta. Torino, La Stampa, 1990.p. 62.

(4) Cf. Jos C.N. Raadschelders : “Woodrow Wilson on Public Office as a Public Trust” No endereço eletrônico: bush.tamu.edu/pubman/papers/2002/raadschelder.pdf

(5) Dean, John W.: “Worse than Watergate”, The New York Times, 02/05/04. “…a presiência Bush-Cheney é claramente nixoniana e apenas no que diz respeito ao segredo ela é pior (…). Dick Cheney, que dirige suas próprias operações governamentais secretas declara abertamente pretender que o relógio volte para antes de Watergate, tempo de uma presidência imperial, extra-constitucional e inconfiável (unaccountable). Declarar a sua presidência secreta como anti-democrática é pouco.(…)Woodrow Wilson, com base em seu longo estudo sobre a arte de governar, conclui o que todo mundo sabe, ou seja, que a corrupção vigora nos lugares secretos e foge dos públicos. Acreditamos justo o enunciado que afirma o secredo enquanto sinônimo de impropriedade”. Sejam quais forem os juízos sobre o autor, ele indica um ponto que merece atenção.

(6) The Theory Of Moral Sentiments (1759): Parte VII – “Of Systems Of Moral Philosophy”. Raphael and A.L. Macfie (Ed.), vol. I The Glasgow Edition of the Works and Correspondence of Adam Smith, V.I, (Indianapolis: Liberty Fund,1987)

(7) Georg Simmel, “The sociology of secrecy and of secret societies”, in American Journal of Sociology, V. 11, 4, janeiro 1906, página 337.

(8) Citado por David Vincent, "The Culture of Secrecy." Britain, 1832-1998, página 6. “A powerful and persistent culture of secrecy--reflecting the basic assumption that good government is closed government and the public should only be allowed to know what the government decides they should know--was carried over from the nineteenth century and refined in the twentieth century when it was given statutory backing through Britain's formidable secrecy laws.” C. Ponting: Secrecy in Britain (Londres, 1990), cit. por David Vincent, op. cit. página 10.

(9) Georg Simmel, “The sociology of secrecy and of secret societies”, in American Journal of Sociology, V. 11, 4, janeiro 1906.

(10)“Il potere in maschera.” In L´Utopia capovolta. Torino, La Stampa, 1990. Páginas 261 e seguintes.

30 janeiro 2007

CONTRIBUIÇÕES

Chegou a nossa hora, nós, cidadãos comuns. O texto que reproduzo hoje, da Luisete, do blog Descontrole = Corrrupção, trata dos assuntos técnicos que ela costumeiramente aborda no seu próprio espaço, mas tem um peso muito mais significativo quanto ao medo que todos sentimos da nossa própria impotência diante do Estado.

Afinal, se o seqüestro, tortura e assassinato de um prefeito não são esclarecidos em cinco anos, será que mereceremos, míseros mortais, alguma atenção das autoridades?

(O blog continua "em construção". Tenham paciência, por favor.)

LUISETE

CELSO DANIEL: CINCO ANOS DE IMPUNIDADE


Não posso afirmar que o uso corrente de práticas antieconômicas, lesivas ao interesse coletivo, seja um indício da ação deliberada e criminosa de administradores públicos. Se o fizer, corro o risco de sofrer um processo, uma condenação, uma pena que me obrigue a dispor do que eu não tenho para indenizar “a” ou “b”. Será? Vejamos:

Em novembro de 2005, foi presa jovem mãe de 18 anos. O processo, rápido, resultou em condenação, 4 anos em regime semi-aberto. Seu crime: roubar manteiga em um supermercado, fato amplamente noticiado sem que, até o momento, saibamos de um desfecho em torno do que o bom senso recomendaria, ou seja, o livramento total da acusação que pesa sobre a jovem.

Portanto, notamos que é justo este meu receio de afirmar o que parece óbvio e de, depois, ser vergonhosamente injustiçada.

Esse preâmbulo é, somente, para lembrar Celso Daniel, seqüestrado, torturado, assassinado há cinco anos. Quem matou, por que, que implicações políticas e que atos e redes de corrupção teriam originado o crime, não sabemos, até agora. Tenta-se liquidar o assunto com a tese do crime comum.

Realmente, caso o crime tenha sido engendrado no seio de alguma rede de corrupção dentro do município administrado pelo ex-prefeito, como classificá-lo de crime político? Crime de seqüestro, tortura e assassinato em que as investigações apontaram para a existência de esquemas de “arrecadação” junto a contratados da Prefeitura, é crime hediondo; jamais, poderiam seus autores, se beneficiar de quaisquer desses “expedientes” em uso para proteger criminosos que buscam abrigo na “política”.

Rapidez e eficiência para exercer a injustiça, de um lado, e de outro, a mais vergonhosa impunidade! Então, todos estamos expostos, tanto quanto a jovem presa por roubar manteiga. Tanto quanto autoridades do nosso judiciário e servidores públicos, ameaçados e assassinados em razão do cumprimento do dever, tanto quanto o caseiro que teve o sigilo bancário quebrado... Por que, se um crime hediondo suprime a vida de um político do Partido dos Trabalhadores e se esse Partido, no Poder, não envida esforço para fazer justiça a um seu integrante... E nós, povo brasileiro, confiaremos em quem?

Luisete é administradora do blog Descontrole = Corrupção.

29 janeiro 2007

CONTRIBUIÇÕES

Suzy Tude, do blog Alkimistas do Brasil (que nada tem a ver com o ex-governador Alckmin, mas com alquimia) demonstrou empenho em sua participação na blogagem coletiva. Além de centrar-se numa das possibilidades do caso - a de crime político - ela editou sua nota com várias fotos que, infelizmente, não consegui copiar. Sugiro que, além de lerem seu texto, visitem seu blog para verificar o que estou dizendo.

SUZY TUDE

Caso Celso Daniel: a quem interessa abafar?


Perguntas sem respostas ou respostas encobertas:

Quem chefiava a quadrilha que arrecadava dinheiro para o PT em Santo André?

Quais os verdadeiros autores intelectuais do crime?

Por que o Ministério Público e a Polícia Civil chegaram a conclusões tão diferentes sobre o caso?

Já são sete “queimas de arquivo” para encobrir o assassinato de Celso Daniel!

O legista Delmonte: seus superiores o proibiram de dar entrevistas quando ele começou a defender a tese de que Celso Daniel havia sido torturado.

O assassinato de Celso Daniel e a corrupção com recibo em Santo André é uma práxis petista!

“(...)Nem se fale dos indícios, senão evidências, que surgiram no episódio do assassinato do Prefeito Celso Daniel, de Santo André, em janeiro de 2002, algumas argüidas por Cid Queirós Benjamin em sua coluna do Jornal do Brasil, em 31 de janeiro de 2002. Cid foi ex-militante do MR-8 e do PT, partido do qual foi fundador, tendo integrado a Secretaria Nacional de Formação Política.
As denúncias de Cid assinalavam a tentativa de dar uma conotação de crime político contra o PT, quando na realidade se levantava um esquema de corrupção petista que evoluía, desde o envolvimento de prefeitos do PT com a CPEM, com desdobramentos em outras áreas.
Em 2005, o caso Celso Daniel foi matéria de uma reportagem de Roberto Cabrini, no Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes. O repórter divulgou, com exclusividade, trechos de conversas telefônicas de dirigentes do PT e do principal suspeito e indiciado pelo assassinato, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Com o novo rumo das investigações, a Procuradoria Geral da República sugeriu o indiciamento do Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o Ministro Nélson Jobim arquivou o processo. A decisão de Jobim foi criticada por não ter sido técnica.(...)” no artigo Indecências repetidas de indecentes personagens de José Luis Sávio Costa em 14 de julho de 2005.

“Por que o PT mantém fechado o caso Celso Daniel e a oposição não reclama das ameaças aos irmãos da vítima?” É a pergunta que faz José Nêumanne no artigo O exílio da cunhada do irmão do Henfil, onde destaco: (...)“Há muitos pontos obscuros no crime e na investigação de sua autoria. O fato de Sérgio Gomes da Silva ter sido beneficiado por habeas-corpus pedido pelo presidente da República e autocraticamente concedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, deixa claro quão árdua será a tarefa de quem se dispuser a esclarecê-los. Continua duro de entender seja por que o PT luta tanto para encerrar o assunto, sempre que se tenta reabri-lo, seja por que a oposição não denunciou a ignomínia que é esse exílio voluntário do casal Daniel e seus filhos de um Estado que se julga ser de direito."

Ainda sobre Celso Daniel, Roberto Romano escreve: "Na sexta feira passada, em Santo André, foi oficiada a missa em memória do prefeito Celso Daniel. As palavras perderam o significado, nosso tempo é o da novilingüa exposta por G. Orwel (releia-se o “Apêndice” sobre o tema, no livro 1984). Naquele idioma, o “ministério da verdade” dedica-se à mentira e assim por diante (...)
Celso Daniel foi assassinado, torturado e mentiram sobre estes fatos. Quem mentiu e mente sobre os mesmos fatos é hipócrita, finge virtude para melhor assaltar a vida e a alma do povo brasileiro. Celso Daniel sofreu os piores castigos, sobretudo o da morte nas mãos de carrascos a soldo de interesses os mais espúrios. Numa república honesta, sua morte seria investigada com apoio universal, os assassinos descobertos e punidos. Mas não é o que se viu e o que se nota. Não apenas ele, mas várias pessoas foram assassinadas, enquanto a mentira e a hipocrisia mimetizam com perversidade a virtude, a ética, encobrem os assassinos torturadores.(...)

Será que para solucionar o mistério teremos de ressuscitar Hercule Poirot, o detetive belga morto em 1975 em “Curtain” (Cai o Pano), de Agatha Christie?

27 janeiro 2007

CONTRIBUIÇÕES

A Magui foi a primeira pessoa que me apoiou - não só na idéia, mas na execução do projeto - quando manifestei meu desejo de fazer um blog sobre Celso Daniel. O texto que ela publicou no dia da blogagem coletiva (e que está a seguir) é a perfeita tradução de como é visto esse crime fora da Grande São Paulo (ela mora no Espírito Santo).

Há um misto de indignação, pela ofensa ao homem público, e o registro de cidadania que cobra a solução de todos os casos, quaisquer que sejam, porque todos deixam pessoas sofrendo, como é o caso da família Daniel.

MAGUI

Celso Daniel.
Hoje fazem cinco anos do assassinato do prefeito de Santo André/ SP.
Eu fico pensando neste homem , bonito, inteligente e que chegou onde chegou, com muita pena.
Uma trajetória política de idealista até ser prefeito de uma cidade importante, do maior estado do Brasil.

Mesmo sendo uma figura conhecida,prefeito, não fugiu à violência do país onde o povo está entregue aos bandidos e o poder público à sua mercê. Sequestrado, torturado barbaramente e morto.
O quê ocorreu , realmente ? Quem são os autores deste crime hediondo ? A polícia diz uma coisa e os seus familiares e seguidores outra.

A vida do brasileiro não é fácil e os líderes do mal e do bem encontram-se aqui e acolá, confundindo-se uns com os outros.

Eu estou de longe, tomando conhecimento dos fatos por ouvir dizer. Tudo é possível.Tanto é que a família vive assustada e pessoas ligadas à apuração do crime são mortas.

Quero, com esta participação, dar apoio àqueles que buscam uma resposta e aos familiares a minha solidariedade para encontrarem a paz, mesmo que a verdade não apareça.

26 janeiro 2007

UMA GÊNIA!

Acabo de descobrir que estou competindo com Einstein. Por enquanto, ele leva vantagem.

A gênia das comunicações teve seu template tragado pelo Blogspot, há dois dias, quando a empresa estava fazendo inúmeras mudanças para sofisticar seus serviços. Desde então, apesar de dispor dos arquivos, a dona de tamanha inteligência ficou correndo como uma barata tonta atrás de um novo template.

Einstein acaba de sussurar em meu ouvido que o que mais importa é o conteúdo. O template a gente muda depois, com calma, estudando a melhor forma. E esse aqui está bem bonitinho e, creio, fácil de ler. Me dêem suas opiniões.

Enquanto isso, obviamente, a vida segue, com o BLOG CELSO DANIEL no ar.

Desculpem a minha ingenuidade. São os excessos de querer fazer bem.

24 janeiro 2007

CONTRIBUIÇÕES

Hoje fazemos uma pausa na reprodução dos textos publicados no dia da Blogagem Coletiva, para inserir o texto de Adriana Vandoni, publicado pelo Jornal A Gazeta Cuiabá, MT), edição Nº 5126, de 14 de outubro de 2005. Ele insere a excentricidade que caracteriza a morte de pelo menos sete pessoas ligadas ao assassinato de Celso Daniel.

ADRIANA VANDONI

Os sete cadáveres

Um feriado no meio da semana. Os olhos de muitos, em especial dos homens, mais ocupados na expectativa do início dos lances da seleção brasileira, eu não, detesto futebol!, mas o dia era ideal para o povo descontrair e se desligar da correria do dia-a-dia. Tudo tranqüilo até que sai nos jornais a notícia da morte do médico legista Carlos Delmonte Printes. Delmonte foi o primeiro a examinar o corpo do prefeito Celso Daniel e a denunciar que não foi um crime comum. Houve tortura, supostamente para que Celso Daniel entregasse ou falasse algo, pois, segundo o legista, o prefeito estava com a cueca invertida, coisa que no mundo criminal quer dizer traição. Provavelmente os autores do assassinato queriam mostrar que o prefeito os tinha traído. As investigações feitas até agora mostram que Celso Daniel tinha tentado acabar com o esquema corrupto que, conforme já comprovado e assumido pelos próprios irmãos do morto, ele mesmo tinha montado para arrecadar propinas para o Partido dos Trabalhadores.

O desenrolar dos acontecimentos pode até nos levar a dúvidas e suposições macabras como se vivêssemos um roteiro de novela, uma trama onde o horror de assassinatos são entremeados com lances que de tão óbvios, chegam a ser cômicos. As primeiras notícias eram de que o médico legista tinha sofrido um infarto, porém não foi descartada a possibilidade de envenenamento, como suspeita o Ministério Público paulista.

Mesmo que essa morte tenha se dado por causas naturais, problemas cardíacos, é no mínimo estranha a forma como ocorreram tantas outras mortes ligadas ao caso Celso Daniel. Seria apenas uma macabra coincidência? Ou seria queima de arquivo, que no jargão policial é o assassinato de uma pessoa que sabe demais? Matando, elimina-se a possibilidade da pessoa denunciar ou revelar algo. Os promotores do MP paulista suspeitam que uma seqüência de mortes tenha tido esse objetivo.

Tudo começou com a morte do garçom do Rubaiyat que serviu Celso Daniel e seu amigo Sombra pouco antes do "crime comum", como querem nos fazer crer. O garçom dirigia sua moto quando dois homens o perseguiram e o agrediram até que ele entrou com tudo em um poste. Ele foi encontrado com documentos falsos e, como se descobriu, em sua conta bancaria havia um ine xplicável depósito de R$ 60 mil. Ninguém foi atrás da origem desse depósito, se foi oriundo de chantagem, se ele chantageou ou se foi pago para ficar quieto. A conclusão da polícia foi que sua morte foi "acidental". O que ligou essa morte à morte de Celso Daniel, foi uma conversa telefônica gravada pela Polícia Federal entre Sombra e o então vereador do PT em Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza: "Você se lembra se o garçom que te serviu lá no dia do jantar é o que sempre te servia ou era um cara diferente?", indagou Klinger. "Era o cara de costume", respondeu Sombra.

Dias depois do garçom "morrer-se", também morreu a única testemunha da sua morte, "acidentalmente" com um tiro nas costas. Iran Moraes Rédua, agente funerário que reconheceu o corpo do prefeito, também morreu. Foi assassinado com dois tiros "acidentais" (?) enquanto trabalhava.

Outro assassinado foi Dionízio Severo, detento apontado pelo Ministério Público como o elo entre Sérgio Sombra, amigo e acusado de ser o mandante do crime, e a quadrilha que e xecutou o crime. Dionísio foi resgatado de helicóptero dois dias antes do seqüestro do prefeito e ao ser recapturado disse que tinha revelações importantes sobre o caso Celso Daniel. Foi morto no outro dia. Sérgio Orelha, dono da casa que serviu de abrigo para Dionísio durante o período de fuga, também foi assassinado.

O policial Otávio Mercier, que havia feito um ligação para Dionísio na véspera do seqüestro do prefeito, também foi morto.

Acidentes? Coincidências? Seriam apenas etapas banais e necessárias para se alcançar um poder maior? Ou obra de algum leitor compulsivo de Agatha Christie?

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (RJ) e articulista do Jornal A Gazeta (Cuiabá, MT).

23 janeiro 2007

CONTRIBUIÇÕES

Fábio Mayer é advogado e escreve uma coluna no jornal publicado por seu pai em Rio Branco do Sul, Paraná. Para ele não há meios-termos: corrupção é o nome do jogo.

FÁBIO MAYER

O caso Celso Daniel ainda não foi resolvido.

Há duas correntes de investigação, a do crime comum, que têm prevalecido até agora, e a do crime político, pois há suspeitas de fraudes em operações municipais diversas, visto que Santo André é uma das prefeituras mais ricas do país, o que é de alta suspeição, dada a estranheza do fato de que 7 testemunhas do caso foram misteriosamente assassinadas no curso das investigações, coisa que não ocorre em crimes comuns.

Por outro lado, há que se defender uma rigorosa apuração dos fatos não por se tratar de um prefeito do PT, mas sim, porque as prefeituras no Brasil são caixas-pretas. Fala-se muito em corrupção em órgãos federais, na União, no Judiciário e nos Estados, porém, as prefeituras sempre ficam de lado, quando são o principal foco de desperdício de dinheiro público no Brasil, visto que são administradas à guisa de milhões de nomeações de parentes e correligionários próximos de políticos da raia miúda, o que aumenta, em muito, a corrupção, pois atinge contratos pequenos, médios e grandes sem distinção, contando com estruturas municipais inexistentes ou fraquíssimas nas áreas de controladorias e fiscalização e com a letargia dos Tribunais de Contas dos estados, todos eles muito influenciados por politicagem mesquinha e rasteira.

É a hora certa para esclarecer o caso Celso Daniel, porque não estamos em ano eleitoral. E esclarecendo, punir com rigor os culpados.

Esclarecendo esse caso, dá-se um passo enorme para moralizar as administrações municipais pelo Brasil afora.

Fábio Mayer é advogado

22 janeiro 2007

OUTROS COMENTÁRIOS

Continue acompanhando os textos publicados pelos blogues (na coluna abaixo: LEIA TAMBÉM OS COMENTÁRIOS POSTADOS EM:), enquanto eu "garimpo" postagens que não nos foram relatadas e vou atualizando a lista.

CONTRIBUIÇÕES

O texto veiculado pelo professor Orlando Tambosi no dia da blogagem coletiva faz menção ao texto de Marcelo Soares (Deu no Jornal) e está sendo publicado em sua seqüência para facilitar a compreensão e leitura.

ORLANDO TAMBOSI


Os exilados da era Lula


A data de hoje, 20 de janeiro, marca os cinco anos do desaparecimento do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, seqüestrado em circunstâncias estranhas numa rua de São Paulo ao sair de uma churrascaria com um amigo (o "Sombra"), e torturado e assassinado dias depois. Para manter vivo o caso, ainda envolto em mistério, Shirlei Horta criou um blog em que juntará material sobre o tema e colaborações dos cidadãos interessados na apuração e esclarecimento desse assassinato.

Como lembra o Blog do Deu no Jornal (Marcelo Soares), há duas teses conflitantes sobre o caso: as investigações da Polícia Civil de Santo André concluíram que se tratou de crime comum; já o Ministério Público de SP sustenta que o assassinato teve motivação política, uma vez que Celso Daniel teria se rebelado contra um esquema de corrupção política instalado na prefeitura.

A gigantesca rede de corrupção montada, logo depois, naquilo que o país estarrecido conheceu como "valerioduto", levantaria suspeitas ainda maiores sobre os motivos e circunstâncias da morte do ex-prefeito. E mais suspeitas vieram com a estranha morte de testemunhas do crime, agravadas com o desaparecimento, igualmente, do legista que constatou marcas de tortura no cadáver de Daniel.

Foi tudo acaso, mera coincidência?

O fato é que Celso Daniel não era apenas um ex-prefeito interiorano: seria o coordenador da campanha de Lula à presidência da República e, vivo fosse, certamente teria ocupado um lugar de destaque no governo. A quem interessaria seu desaparecimento? É esta a pergunta que o país ainda se faz.Numa república que merecesse o nome, não pairariam dúvidas sobre esta sucessão de crimes, nem a investigação sofreria embaraços. Mas o que se viu? O que se viu foi que os próprios familiares de Celso Daniel foram ameaçados, perseguidos, intimidados - e, sem amparo, muitos deles estão no exílio.

São os exilados da era lulo-petista.

Que este caso não fique em descaso.

Orlando Tambosi é professor de Filosofia da UFSC

21 janeiro 2007

CONTRIBUIÇÕES

Hoje, e nos próximos dias, vou postar alguns dos textos publicados pelos blogueiros na Blogagem Coletiva de 20 de janeiro. São textos imperdíveis em conteúdo, análise, questionamento. Como esse, do Marcelo Soares, do Deu no Jornal (Transparência Brasil), que ajuda a compreender não só os fatos acontecidos, como as dificuldades que a eles sobrevieram. Suas dúvidas são as nossas dúvidas.

MARCELO SOARES

Cinco anos e um mistério

Amanhã, dia 20, completam-se cinco anos do encontro do cadáver do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, morto a tiros após ser seqüestrado dois dias antes ao sair de uma churrascaria. Como eu estarei bastante ocupado, adianto agora a minha colaboração para a iniciativa da Shirley Horta de fazer um blog com análises tentando organizar o que se descobriu nos cinco anos do caso.

É uma iniciativa importante, em se tratando praticamente da versão tupiniquim do assassinato de John Kennedy - se não pelo status político do morto, certamente pelos desencontros do esclarecimento. Preparei um link, fornecido ao blog criado pela Shirley, que leva a todo o noticiário sobre a morte de Celso Daniel arquivado em três anos do projeto Deu no Jornal. São muitas matérias, mas elas têm peças importantes do quebra-cabeças.

Como vocês devem lembrar, há duas teses em conflito no caso do assassinato: de um lado, afirma-se que o então prefeito foi seqüestrado por criminosos comuns; de outro, afirma-se que esses criminosos seriam a mão armada de um esquema de corrupção política contra o qual Celso Daniel teria se rebelado. A primeira é apoiada pela investigação da Polícia Civil de Santo André; a segunda, pelo Ministério Público Estadual.

As duas teses não são mutuamente excludentes, mas um lado desqualifica o outro. A resposta não é - ou não devia ser - uma questão de opinião ou de qual corrente tem a maior torcida ou peso político. Cada vez que o assunto ressurge, e ressurgiu hoje de novo, mais fica evidente o quanto as peças do quebra-cabeças estão embaralhadas.

A questão é a produção de provas: de um lado, há um crime sem ligação comprovada com um motivo; de outro, há um motivo sem ligação clara com o crime.

O desenvolvimento mais recente é o relatório do inquérito da polícia civil, que concluiu que não houve provas de crime político. Tudo bem que o assassinato do principal acusado na prisão, a golpes de estilete, não ajudou muito - bem como a morte de outras testemunhas. A delegada Elisabete Sato arquivou o inquérito deixando de lado a quebra de sigilo de 34 telefones.

Na tese do motivo político, há uma descrição bastante plausível de um esquema de corrupção em Santo André. O problema é comprovar materialmente que isso teria a ver com o assassinato. Não ajuda a tese o fato de o único dos acusados a apontar Sérgio Gomes da Silva (o "Sombra") como mandante do crime ter voltado atrás na acusação e escrito uma carta na tentativa de extorquir o empresário, amigo do prefeito. Também não ajuda, por outro lado, o fato de a Justiça ter destruído gravações que, segundo o Ministério Público, apoiariam a versão de crime político. O repórter Cláudio Tognolli, na revista eletrônica Consultor Jurídico, publicou em 2004 trechos dessas gravações destruídas.

A imprensa não ajuda muito seus leitores a compreender um caso tão importante e longevo: o noticiário é fragmentado, cada novo ressurgimento, com um fato novo de uma das duas teses, parece contradizer o outro. A praga do declaratório é a raiz disso: seja lá o que for que algum engravatado com gabinete disser, é notícia - não importa se esclarece ou não. A entrada do caso entre as matérias investigadas pela "CPI do Fim do Mundo" foi isso. Tem tudo a ver com isso também o fato de políticos de oposição ao PT tirarem da cartola ligações apressadas do caso com o "caso do dia", como no caso do declaratório sideral do senador José Jorge (PFL) ligando Freud Godoy ao assassinato.

Mais ainda: mesmo os trâmites jurídicos do caso, únicas informações concretas de que se dispõe, muitas vezes acabam sendo mal-interpretados. Em entrevista à edição mais recente da revista Rolling Stone, o ex-ministro José Dirceu diz:


"Estou provando (minha inocência). Primeiro, que já teve CPI dos Bingos e eu já fui inocentado, esse era o caso mais importante que tinha depois da denúncia do procurador-geral da República. Segundo, Santo André e o irmão do Celso Daniel retiraram a acusação que faziam contra mim."

Não foi exatamente assim. João Francisco Daniel afirmara ter ouvido do hoje assessor especial de Lula, Gilberto Carvalho, que Dirceu recebia propina de um esquema de corrupção em Santo André e que uma disputa interna nesse esquema teria levado à morte de Celso Daniel. Processado por Dirceu, João Francisco afirmou que não tinha a intenção de ofender a honra do hoje ex-ministro quando disse aquilo. Com isso, chegaram a um acordo e a ação foi cancelada.

O acordo não desmente o que foi dito e não chega a retirar acusações - quase equivale a um "não foi por mal, desculpe". Não esclarece se havia ou não um esquema ou se José Dirceu recebia ou não dinheiro dele. Significa apenas que o acusador afirmou que não queria ofender a honra do acusado quando acusou. Acusar alguém de se beneficiar de um esquema específico é diferente de apontar o dedo e dizer "Fulano deve ser ladrão". Quando há um fato mencionado, ou foi ou não foi - e, se não foi, é calúnia. O acordo entre as partes impede que se conheça o que realmente houve ou não. A solução apresentada jogou uma acusação grave para o sempre confortável plano da opinião.

Nos cinco anos da morte de Celso Daniel, levanto aqui algumas perguntas controversas. Não vi uma reportagem recente que levante as evidências que apóiam as duas teses e verifique o que houve com elas. Há peças do quebra-cabeça em diversas partes de todo o vasto noticiário publicado nesses cinco anos. Mas elas se perdem no meio do tiroteio de opiniões, palpites, chutes e manobras. Cá vão elas:

1) Havia um esquema de corrupção em Santo André na gestão Celso Daniel? Em que consistia?
2) Se existia, quem se beneficiava dele?
3) Se havia, qual era a posição de Celso Daniel em relação a esse esquema?
4) Se havia, qual era a ligação de Sérgio Silva, o "Sombra", com esse esquema?
5) Falou-se em conexão do bicheiro matogrossense João Arcanjo Ribeiro com o esquema. Houve ou não?
6) Caso se comprove que não tenha havido nada, como fica o amigo de Celso Daniel?

A falta de esclarecimento do caso não faz bem à política brasileira e nem à memória de Celso Daniel.

Marcelo Soares é coordenador do projeto Deu no Jornal, da Transparência Brasil

20 janeiro 2007

Problemas nos comments...

Acabo de ser alertada de que há problemas para postar comentários. Estou tentando regularizar. Enquanto isso, podem usar o e-mail, se quiserem. Depois eu transfiro as mensagens para cá.

LEIA TAMBÉM OS COMENTÁRIOS POSTADOS EM:

Blog do Orlando Tambosi; Deu no Jornal; Filosofia Política; Roque Sponholz; O que pensa Aluízio; Blog do Fábio Mayer; Blogue da Magui; André Wernner; Couro de Jacaré; Blog da Suzy Tude; Blogando Francamente; Blogildo; Blog do Cejunior; Vaca Atolada; Ramsés Séc. XXI; Fabrício Lima; Oh raios; Aprendiz; Resistência Brasil; Malditos Patos!; Jus Indignatus; Descontrole = Corrupção; Prosa e Política;

Inaugurando o blog

A partir de agora, meia-noite, entrada do dia 20 de janeiro de 2007, este blog vive, respira, demanda, questiona, exige, propõe, tudo que diz respeito às circunstâncias em que o prefeito de Santo André-SP, CELSO DANIEL, foi seqüestrado, torturado e assassinado.

São muitas as faces de um mesmo caso e num reconhecimento disso, decidimos inaugurar o blog com dois excelentes artigos: primeiro, você terá contato com alguém que acaba de sair de uma missa em memória de CELSO DANIEL e questiona filosoficamente a situação do assassinato, do sofrimento de sua família e de nossas obrigações como cidadãos. É o texto do professor Roberto Romano.

Em seguida, numa sinonímia com o lendário exilado Betinho, o irmão do Henfil, José Nêumanne demanda que se dê nomes aos fatos, que se questione a difícil situação da família diante de tantas versões e sugere que a sociedade civil, representada por seus artistas, pelo menos grite a sua indignação.

A todos vocês
UMA BOA LEITURA!
A todos nós
UMA BOA LUTA!

ROBERTO ROMANO

Celso Daniel



Na sexta feira passada, em Santo André, foi oficiada a missa em memória do prefeito Celso Daniel. As palavras perderam o significado, nosso tempo é o da novilingüa exposta por G. Orwel (releia-se o “Apêndice” sobre o tema, no livro 1984). Naquele idioma, o “ministério da verdade” dedica-se à mentira e assim por diante. Na tentativa de entender o que se passou no dia 20 de janeiro, ano fatídico de 2002, abri o dicionário de idéias mais estratégico para a nossa modernidade, a Enciclopédia dirigida por Diderot no século das Luzes. Abro a página no verbete “assassinato”. Nas primeiras linhas vem algo insuportável para todo ser humano que pensa e sente: “pode-se definir o assassinato como um atentado premeditado contra a vida de um homem, bem diferente portanto da morte involuntária cometida no caso de uma defesa legítima”. E mais adiante, retoma o autor: “O assassinato é um dos maiores crimes que perturbam a ordem da sociedade, sendo conveniente puni-lo com as penalidades mais severas”.

O século 18 não foi leniente com a prática do assassinato. Como uma base necessária para punir realmente o assassino, o devido processo judicial é defendido pelos filósofos e juristas daquela época. Contra a tortura (chamada na França “a questão”, pois perguntas eram feitas ao acusado, em práticas atrozes de estraçalhamento dos corpos e das almas), os pensadores pregavam a necessária verdade dos autos, sem que a propaganda religiosa ou política se intrometesse nos procedimentos policiais ou no tribunal. A verdade integra a punição do culpado, permite a defesa do inocente.

A verdade é uma questão lógica, empírica, existencial. O mentiroso não pode ser livre nem democrata, pensam os filósofos do século 18, e repetem até hoje as pessoas retas. A mentira é o simulacro da justiça, o simulacro do ser humano. O verbete “mentira” da mesma Enciclopédia (lida no Brasil do mesmo século 18 por Tiradentes, o estraçalhado na tortura portuguesa) afirma que ela é uma “falsidade desonesta ou ilícita que consiste em se exprimir deliberadamente por palavras ou sinais, de um jeito falso para fazer o mal”. E quem mente assim, o que é? Ainda no dicionário mais importante da cultura democrática moderna, lido por todos os que defenderam um Estado em que a segurança individual deve ser a norma, indica o nome do que usa o assassinato, a tortura, a mentira: hipócrita. Este é “um homem que se mostra com um caráter que não é o seu (…) tudo na vida tem os seus hipócritas: a virtude, o vício, o prazer, a dor, etc. Mas o nome de hipócrita é dado mais particularmente aos homens perversos e falsos, que sem virtude e religião, pretendem fazer respeitar neles as maiores virtudes e o amor da religião. Eles empregam todo o zelo para se dispensar de serem honestos, Empregam todo o zelo para se dispensarem de serem bons, parecendo santos ou heróis. (…) O céu está nos seus olhos, o inferno em seus corações”.

Celso Daniel foi assassinado, torturado e mentiram sobre estes fatos. Quem mentiu e mente sobre os mesmos fatos é hipócrita, finge virtude para melhor assaltar a vida e a alma do povo brasileiro. Celso Daniel sofreu os piores castigos, sobretudo o da morte nas mãos de carrascos a soldo de interesses os mais espúrios. Numa república honesta, sua morte seria investigada com apoio universal, os assassinos descobertos e punidos. Mas não é o que se viu e o que se nota. Não apenas ele, mas várias pessoas foram assassinadas, enquanto a mentira e a hipocrisia mimetizam com perversidade a virtude, a ética, encobrem os assassinos torturadores.

Sem o Ministério Público a mentira, a tortura, a hipocrisia sairiam ilesas no caso Celso Daniel. O povo brasileiro deve aos bravos promotores de justiça este serviço mais do necessário, uma liturgia sublime. A família de Celso Daniel recebe ameaças cotidianas, enquanto os hipócritas e mentirosos continuam sua farsa. Após a morte “misteriosa” do legista que apontou a tortura no corpo de Celso Daniel, outro legista repete o mesmo laudo: estraçalharam aquele homem covardemente. Há uma pergunta no direito que não pode calar: “a quem interessa”? Quem se beneficiou com o crime? Ajudemos a corajosa família de Celso Daniel a responder tal questão. Com ela, virá a paz aos que merecem justiça. Só então o prefeito de Santo André será verdadeiramente sepultado. Só então o cheiro da morte abandonará a pavorosa cena política brasileira. Sim, os mentirosos e hipócritas que usaram o assassinato possuem o céu nos olhos, o inferno nos corações. Que Deus tenha piedade de nosso povo.

Roberto Romano é professor de Fisolofia da Unicamp

JOSÉ NÊUMANNE

O exílio da cunhada do irmão do Henfil

Por que o PT mantém fechado o caso Celso Daniel e a oposição não reclama das ameaças aos irmãos da vítima?

Em seu primeiro depoimento à CPI dos Bingos sobre o caso Santo André, o chefe de gabinete de Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, tentou desqualificar as dúvidas sobre a investigação do assassínio de Celso Daniel aventadas pelo irmão mais velho do ex-prefeito, o oftalmologista João Francisco, insinuando ligações espúrias dele com empresários de ônibus da cidade. E manifestou a esperança de que o depoimento do outro irmão, Bruno José, teria mais valor, pois este fora militante do PT e, ao contrário do outro, tinha uma relação mais fraterna com a vítima. Só que este confirmou tudo o que o primogênito dissera, mostrando que a família da vítima não estava dividida na convicção de que a tese do crime comum, estranhamente comungada pela polícia tucana de Alckmin e pelo PT de Lula, é um terrível equívoco e certos estão os promotores, que apostam na hipótese de execução de mando.

Agora, com João Francisco dando plantões em rodízio por hospitais de várias cidades brasileiras e cuidando da deportação espontânea do próprio filho, ameaçado de morte, e com Bruno, a mulher e os três filhos em exílio voluntário, resta saber o que o poderosíssimo assessor direto do excelentíssimo presidente da República teria a dizer. Passa pela cabeça de qualquer brasileiro de posse das próprias faculdades mentais acreditar na possibilidade de esses parentes da vítima terem resolvido enfrentar tantos transtornos em suas vidas pessoais, a ponto de terem de pedir licença nos empregos e se esconderem pelo País e pelo mundo, apenas para prejudicar Lula e seu partido? Que tipo de ódio doentio levaria um médico e um professor universitário a passarem para a clandestinidade apenas para causar dificuldades para um grupo político do qual seu irmão não apenas fazia parte, mas era um dos dirigentes mais importantes?

Ou ainda que grupos políticos ou empresariais poderiam estar por trás de escusos interesses ocultos capazes de motivar um oftalmologista apartidário, seu irmão e sua cunhada, estes petistas de carteirinha, a fazerem uma cruzada contra o grupo político no exercício do poder?

É difícil crer nessa hipótese. E mais ainda fica difícil acreditar na
possibilidade de isso fazer parte de algo definido como uma “conspiração de direita”, quando se sabe que Marilena Nakano, a mulher de Bruno Daniel, foi secretária de Educação do cunhado na Prefeitura de Santo André e também é cunhada de um mito da esquerda brasileira, o sociólogo Betinho, o irmão do chargista Henfil tornado símbolo da luta pela anistia no verdadeiro hino em que se tornou o sucesso composto por João Bosco e Aldir Blanc para Elis Regina, O Bêbado e o Equilibrista.

Se não há uma conjura elitista contra o petismo no poder, o que, então, justificaria o fato de os irmãos Daniel e seus familiares se esconderem, enquanto os acusados de serem mandantes do crime pelos promotores gozam de plena liberdade? Liberdade, a julgar pela denúncia feita pelos parentes de Celso Daniel, até para tirar do caminho aqueles que ousam desafiar a pressa e o desleixo com que a polícia paulista tratou o caso, pelo menos até agora.

Há muitos pontos obscuros no crime e na investigação de sua autoria. O fato de Sérgio Gomes da Silva ter sido beneficiado por habeas-corpus pedido pelo presidente da República e autocraticamente concedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, deixa claro quão árdua será a tarefa de quem se dispuser a esclarecê-los. Continua duro de entender seja por que o PT luta tanto para encerrar o assunto, sempre que se tenta reabri-lo, seja por que a oposição não denunciou a ignomínia que é esse exílio voluntário do casal Daniel e seus filhos de um Estado que se julga ser de direito.

Quem sabe não seria o caso de João Bosco e Aldir Blanc comemorarem a recente reconciliação ressuscitando a velha parceria para protestar contra mais esse ignominioso abuso de poder.

José Nêumanne é jornalista, escritor e editorialista do “Jornal da Tarde”

16 janeiro 2007


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Banco de Dados

O blog Deu no Jornal, da Transparência Brasil, colocou à disposição deste blog um link fixo - Deu no Jornal - notícias sobre Celso Daniel - que direciona o leitor diretamente ao banco de dados sobre o caso Celso Daniel. Essa é uma preciosidade enorme, que merece outro post, mas por enquanto serve de indicação para os que procuram inspiração sobre o que escrever no dia da blogagem coletiva, 20 de janeiro.

Créditos - fotos

Não nos foi possível identificar os autores das fotos que ilustram este blog. Se alguém souber da sua autoria, por favor entre em contato, para que possamos dar-lhes os devidos créditos.