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20 janeiro 2008

Em busca do tempo perdido



Os dias talvez sejam iguais para um relógio,
mas não para um homem.
Marcel Proust, Em busca do tempo perdido



Há seis anos restam impunes os crimes de seqüestro, tortura e assassinato do prefeito de Santo André (SP) CELSO DANIEL.

Como se fosse um paliativo, um emplastro para diminuir a dor, sua família recebeu, na semana que passou, vistos de refugiados políticos na França, onde passam a morar por uma questão de segurança.

O Brasil não lhes garante a segurança. O Brasil se reconhece no Brasil que cala os mortos com outras mortes.

Aos 50 anos, Celso Daniel era um homem bonito, culto, inteligente, em ascensão no Partido dos Trabalhadores, na política, na vida.

Não deixa de ser tragicômico que seus companheiros de partido – Lulla, Marta, Zé Dirceu – estejam hoje buscando o que já foram há seis anos ou mais. Botox, peeling, enxertos de cabelo, tudo para voltar ao que parou para Celso Daniel há 6 anos.

Celso Daniel não envelhece e está insepulto. Seus companheiros estão envelhecendo e fugindo da morte. Querem voltar no tempo na aparência física, mas sem os transtornos passados.

O tempo também ajuda a esquecer o homem bonito, de 50 anos, professor universitário, vítima fatal de violência nunca esclarecida. Fico pensando se Celso Daniel estaria hoje, aos 56 anos, se vivo, injetando botox na testa, fazendo peeling facial, enxertando cabelos nas entradas calvas. Talvez. Não conheço ninguém que goste de se ver próximo da morte.

Mas ele morreu bonito e jovem. Não precisou gastar seu tempo e dinheiro para recuperar um tempo que para ele não passará. É fato, não adianta negar, não se recupera o tempo vivido fisicamente. Seus companheiros podem fingir à vontade que têm 30, 40, 50 anos de idade, mas suas histórias são mais longas, mais cicatrizadas a laser, mais recauchutadas.

Seis anos de tempo perdido irrecuperável. Para Celso Daniel e para todos os seus companheiros, quer queiram, quer não.


18 janeiro 2008

"Os refugiados do lulismo"

A Folha confirma hoje que familiares do ex-prefeito Celso Daniel (Santo André-SP), assassinado há seis anos, foram reconhecidos, de fato, como "refugiados políticos" na França.

Um irmão e uma cunhada do ex-prefeito petista de Santo André (SP) Celso Daniel, morto há quase seis anos, foram reconhecidos pelo governo francês como refugiados políticos. Bruno Daniel, Marilena Nakano e três filhos deixaram o Brasil em março de 2006. A família informou que vinha recebendo ameaças de morte por insistir na elucidação do assassinato do prefeito, até hoje sem resposta na Justiça. O casal reuniu reportagens e relatos de amigos sobre as ameaças para apresentar ao Ofício Francês de Proteção aos Refugiados e Apátridas (OFPRA) - a Folha ligou para o órgão, que informou que os casos são mantidos em sigilo. Bruno e Marilena disseram que escolheram o país pela tradição da França em dar abrigo a perseguidos políticos. A pedido da família, Hélio Bicudo, membro da Fundação Interamericana de Direitos Humanos, irá apresentar hoje duas cartas escritas pelo casal, que pede um maior empenho do Judiciário. No documento, a família informa que sua maior preocupação é a ação que está no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando a legitimidade de os promotores conduzirem uma investigação. Advogados do ex-segurança e empresário Sérgio Gomes da Silva, apontado pelo Ministério Público como o mandante do crime (o que ele nega), dizem que só a polícia pode investigar. A família pede aos ministros que se sensibilizem e votem de forma favorável à Promotoria. O processo sobre a morte está na primeira instância -as testemunhas de defesa estão sendo ouvidas. Celso Daniel foi seqüestrado no dia 18 de janeiro de 2002, quando estava em um carro blindado conduzido por Gomes da Silva. O corpo foi localizado dois dias depois. Para a Promotoria, o crime foi encomendado e está relacionado a um esquema de propina montado para financiar campanhas eleitorais. A Polícia Civil, porém, concluiu que foi crime comum.

Em 17 de janeiro do ano passado, publiquei aqui e no
Blog Celso Daniel um texto exatamente com este título: "Os exilados da era Lula". Cito o trecho final:Numa república que merecesse o nome, não pairariam dúvidas sobre esta sucessão de crimes, nem a investigação sofreria embaraços. Mas o que se viu? O que se viu foi que os próprios familiares de Celso Daniel foram ameaçados, perseguidos, intimidados - e, sem amparo, muitos deles estão no exílio. São os exilados da era lulo-petista. O governo Lula, amigo das Farc e do castrismo (leia editorial do Estadão: "O diploma honoris causa das Farc"), até hoje não tomou qualquer medida para proteger os familiares de Celso Daniel.

Orlando Tambosi

P.S.: O texto está transcrito, o que não quer dizer que não é preciso visitar o blog do prof. dr.
Orlando Tambosi, de leitura obrigatória.